sexta-feira, 6 de março de 2015

Recursos Hídricos no Brasil, HAMEH,I. (2009)

HAMEH,Ioná. Recursos hídricos no BrasilHidrologia e gestão de recursos    hídricos. InstitutoFederal de Pernambuco,2009.

De um modo geral, o Brasil é considerado muito rico em águas superficiais e subterrâneas. O crescimento demográfico e econômico aumentou a pressão sobre os recursos hídricos e fez surgir diversos conflitos de usos e situação de escassez. Na mesma época, observou-se uma progressiva piora da qualidade das águas dos rios que atravessam cidades e regiões de intensa atividade industrial, agropecuária e de mineração. Desta forma, em locais onde não existiam restrições de natureza qualitativa, encontram-se atualmente com a qualidade de suas águas comprometida, a ponto de ser inviabilizada sua utilização para determinados fins.

Assim como a demanda de água, a sua disponibilidade também é bastante variada no Brasil, devido às diversidades de climas, relevos, potencialidades econômicas e condições socioeconômicas e culturais existentes. Podemos encontrar, no território brasileiro, regiões riquíssimas em água de boa qualidade, até regiões semiáridas que passam por longos períodos de estiagem, além de áreas urbanas com sérios problemas de poluição e inundações. Estima-se que 10% da água doce do planeta se encontra no Brasil, tornando-o, em termos quantitativos, um dos mais ricos em água doce do mundo. Contudo, observa-se, também, que esta água não é bem distribuída no tempo e no espaço, entre as diferentes regiões do País. Dentro do espírito da Lei 9.433/97, conhecida como “Lei das Águas” e para efeito de gestão das águas, o Brasil foi dividido em 12 regiões hidrográficas.

Regiões Hidrográficas

Na Figura acima, são apresentadas as regiões hidrográficas brasileiras com seus respectivos valores percentuais de área, população e vazão média em relação ao Brasil. Observe que a Região Hidrográfica do Amazonas possui o maior percentual de área e vazão média, entretanto apresenta baixo percentual de população. Situação contrária a esta observamos na Região Hidrográfica do Paraná, que possui 32% da população do País, e nas Regiões Costeira do Nordeste Oriental e Costeira do Sudeste, com um percentual de população de 20% e 15%, respectivamente.
A população mundial e suas atividades já atingiram uma escala de utilização dos recursos naturais disponíveis que obriga todos a pensar no futuro de uma nova forma. É previsto que a população mundial estabilize-se, por volta do ano 2050, entre 10 e12 bilhões de habitantes, o que representa cerca de 5 bilhões a mais que a população atual,enquanto a quantidade de água disponível para o uso permanece a mesma (OMM/UNESCO apud Setti et al, 2001). Uma forma de mostrar o cenário nacional dos usos dos recursos hídricos brasileiros é apresentando os percentuais de demanda de água de cada setor usuário, onde a maior demanda por água do País é exercida pela agricultura, mais especificamente a irrigação, com quase 63% do total. O uso doméstico (urbano e rural) aparece em segundo, com 18%, seguido do industrial, com 14%, e, por último, a dessedentação de animais, com 5%.

Disponibilidade Hídrica

A disponibilidade de água por habitante também é um forte indicador da distribuição dos recursos hídricos no Brasil. A figura acima apresenta a disponibilidade hídrica per capita por regiões hidrográficas, a partir do Censo Demográfico de 2000. Observamos que há uma grande variabilidade deste indicador no País. A situação mais crítica é observada na Região Costeira do Nordeste Oriental, onde estão os estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Para a bacia do rio Capibaribe, em Pernambuco, observa- se uma vazão per capita de 428 m3/hab.ano. No rio Inhambupe, que compreende parte da Bahia e Sergipe, este indicador chega a 479 m3/hab.ano, e, no rio Vaza Barris, na Bahia, observam-se 610 m3/hab.ano. Estas áreas foram consideradas muito pobres em relação à disponibilidade hídrica. Nesta região, observam-se valores de 740 m3/hab.ano para a região Oriental de Pernambuco, de 886 m3/hab.ano para a Oriental da Paraíba, de 1.024 m3/hab.ano para as regiões do Leste Potiguar, no Rio Grande do Norte, e de 1.165 m3/hab.ano para a bacia do rio de Contas, na Bahia, caracterizando-a como pobre e regular em disponibilidade de água. A região hidrográfica do Paraná, na bacia do rio Tietê, em São Paulo, apresenta um quadro de baixa disponibilidade hídrica (810 m3/hab.ano de vazão per capita), devido a uma grande concentração populacional.
Em contraste com estas áreas, na Região Hidrográfica do Amazonas, encontramos os maiores índices de disponibilidade hídrica do País. Estima-se que, atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em condições insuficientes de disponibilidade de água para consumo e que, em 25 anos, cerca de 5,5 bilhões de pessoas estarão vivendo em áreas com moderada ou séria falta de água. Quando se analisa o problema de maneira global, observa-se que existe quantidade de água suficiente para o atendimento de toda a população. No entanto, a distribuição não uniforme dos recursos hídricos e da população sobre o planeta acaba por gerar cenários adversos quanto à disponibilidade hídrica em diferentes regiões (Setti et al,2001).

**Texto retirado do artigo Hidrologia e gestão de recursos hídricos, da Professora Ioná Hameh (2009), professora do Instituto Federal de Pernambuco.

Referencias

BARTH, F. T.; BARBOSA, W. E. S. Recursos Hídricos. Texto não publicado.
1999. 46 p.

BRASIL, Agência Nacional de Águas (ANA). Disponibilidade e demandas
de recursos hídricos no Brasil. Cadernos de Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacional de Águas, 2005a. 134 p.

BRASIL, Agência Nacional de Águas (ANA). Panorama da qualidade das águas subterrâneas no Brasil. Cadernos de Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacional de Águas, 2005b. 80 p.

BRASIL. Agência Nacional de Águas (ANA). A Evolução da gestão dos recursos hídricos no Brasil = The evolution of water resources management in Brazil. Brasília: Agência Nacional de Águas, 2002. 64 p.(Edição comemorativa do Dia Mundial da Água).

PORTO, R. L. L.; FILHO, K. Z.; SILVA, R. M. Bacias hidrográficas. Texto da disciplina Hidrologia Aplicada. Escola Politécnica de São Paulo. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. 1999. 35 p.

PORTO, R. L. L.; FILHO, K. Z. Introdução à Hidrologia- ciclo hidrológico e balanço hídrico. Texto da disciplina Hidrologia Aplicada. Escola Politécnica de São Paulo. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. 1999. 35 p.

SETTI, A. A.; LIMA, J. E. F. W; CHAVES, A. G. M.; PEREIRA, I. C. Introdução ao gerenciamento dos recursos hídricos. 2ª. Ed. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, Superintendência de Estudos e Informações Hidrológicas, 2001. 207 p.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2ª Ed. Porto Alegre: Edit. Universidade/ UFRGS: ABRH, 2001. 943p

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