Os impactos e o descaso nos
investimentos públicos no Rio São Francisco
São
vários autores que apontam para os impactos relacionados às alterações
impostas aos recursos hídricos, dentre eles, Marques (2003) aponta o caso do
avanço do mar sobre áreas continentais, na foz do rio São Francisco devido à
diminuição da força das águas do rio, pela diminuição de sua vazão. Muehe
(2005) por sua vez, explica que além da diminuição da vazão das águas, também o
processo contínuo de transporte de sedimentos pelas águas dos rios contribuem
para constituir barreiras submersas que impedem o avanço das águas marinhas nas
áreas estuarinas. Quando estes sedimentos ficam retidos à montante, nos
reservatórios, o avanço das águas marinhas se acelera, invadindo áreas que
antes eram protegidas pela dinâmica equilibrada entre o encontro das águas do
rio e o mar. O caso do avanço do mar sobre o povoado Cabeço, município de Brejo
Grande - SE na foz do rio São Francisco é um claro exemplo deste desequilíbrio.
Cerca
de 500 famílias tiveram que ser realocadas para os povoados próximos de:
Saramém, Resina, Brejão dos Negros e as que ainda ocupam a área correm risco de
perder suas casas pelo acelerado e contínuo avanço do mar sobre a área.
O
avanço do mar sobre áreas do estuário também altera a salinidade das águas,
sendo que peixes de água salgada têm sido encontrados em áreas anteriormente de
predomínio de água doce. A salinização dos estuários e dos aquíferos nas áreas
de contato tem impactado as comunidades ribeirinhas, que são obrigadas a
modificarem suas atividades sob a ameaça de perderem sua produção ou sua forma
de sustento.
Santos
(2008) discorre sobre os impactos socioambientais da salinização da água do
rio sobre as cultura do arroz em Porto da Folha-SE, lembrando que grande
parcela dos produtores foram obrigados a abandonar a atividade. Sob o aspecto
da piscicultura tem havido perda de biodiversidade, já que muitas espécies que
dependiam da piracema, retornando para desova em áreas à montante do rio, não
conseguem mais fazê-lo, seja devido aos represamentos, ou devido à alteração na
turbidez, na temperatura e na composição química, devido o uso e despejo
excessivo de agrotóxicos e de esgotos sem tratamento nas águas.
Os
usos múltiplos na realidade se reduzem a poucos, como o uso para fins de produção
energética e para irrigação. Os demais usos são ínfimos e muitos deles têm
desaparecido devido aos impactos gerados pelos primeiros. Assim, enquanto a
pesca, a navegação, as pequenas culturas de inun118 Rio São Francisco: as
águas correm para o mercado Claudio Ubiratan Gonçalves; Cristiane Fernandes de
Oliveira B G G
dação perdem força, o agronegócio da fruticultura irrigada cresce
e com ele novas demandas por energia.
Quanto
ao uso da água para fim de saneamento básico e de abastecimento de água, que
são necessidades reais e crescentes, especialmente nas aglomerações urbanas,
pode-se afirmar que ainda são necessários muitos investimentos para o alcance
de condições adequadas. Em se tratando da bacia do rio São Francisco, os
volumes de esgotos produzidos, coletados e tratados são de 669 mil m3/ano, 239 mil m3/ano e 81 mil m3/ano respectivamente.
Ainda,
de acordo com informações disponibilizadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio São Francisco, somente 52,5% dos esgotos da Bacia são coletados e 20,7%
deste total é tratado. Isto implica em comprometimento das águas dos rios da
bacia com perda da qualidade para fim de uso, especialmente o de consumo
humano.
As
principais demandas de uso da água, excluído o uso energético, atualmente
estão, atualmente, assim distribuídas na bacia do rio São Francisco:
Uso humano (m3/s)
|
Irrigação e uso animal (m3/s)
|
Uso industrial (m3/s)
|
28
|
167
|
29
|
As altas e crescentes demandas de água para fim de irrigação demonstram que a área cultivada tem sido ampliada. Neste sentido, não deve ser desprezado
o impacto referente ao uso de agrotóxicos, com consequente contaminação dos
cursos d’água da bacia.
Tendo em vista o
quadro de supremacia do uso da água para fim de irrigação sobre os demais usos,
e considerando que a questão da escassez da água não deve ser compreendida
somente sob o aspecto da quantidade, mas também da qualidade das águas, sejam
elas superficiais ou subterrâneas, torna-se urgente a necessidade de revisão
das prioridades de investimentos públicos. Neste sentido, a água, para fim de
abastecimento, deve ser universalizada da melhor forma possível, sendo que os
investimentos em saneamento básico são emergenciais para a garantia da
qualidade dos recursos hídricos.
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