segunda-feira, 2 de março de 2015

Os impactos e o descaso no Rio São Francisco

Os impactos e o descaso nos investimentos públicos no Rio São Francisco

São vários autores que apontam para os impactos relacionados às al­terações impostas aos recursos hídricos, dentre eles, Marques (2003) aponta o caso do avanço do mar sobre áreas continentais, na foz do rio São Fran­cisco devido à diminuição da força das águas do rio, pela diminuição de sua vazão. Muehe (2005) por sua vez, explica que além da diminuição da vazão das águas, também o processo contínuo de transporte de sedimen­tos pelas águas dos rios contribuem para constituir barreiras submersas que impedem o avanço das águas marinhas nas áreas estuarinas. Quando estes sedimentos ficam retidos à montante, nos reservatórios, o avanço das águas marinhas se acelera, invadindo áreas que antes eram protegidas pela dinâmica equilibrada entre o encontro das águas do rio e o mar. O caso do avanço do mar sobre o povoado Cabeço, município de Brejo Grande - SE na foz do rio São Francisco é um claro exemplo deste desequilíbrio.
Cerca de 500 famílias tiveram que ser realocadas para os povoados próximos de: Saramém, Resina, Brejão dos Negros e as que ainda ocupam a área correm risco de perder suas casas pelo acelerado e contínuo avanço do mar sobre a área.
O avanço do mar sobre áreas do estuário também altera a salinidade das águas, sendo que peixes de água salgada têm sido encontrados em áreas anteriormente de predomínio de água doce. A salinização dos estuários e dos aquíferos nas áreas de contato tem impactado as comunidades ribei­rinhas, que são obrigadas a modificarem suas atividades sob a ameaça de perderem sua produção ou sua forma de sustento.
Santos (2008) discorre sobre os impactos socioambientais da salini­zação da água do rio sobre as cultura do arroz em Porto da Folha-SE, lem­brando que grande parcela dos produtores foram obrigados a abandonar a atividade. Sob o aspecto da piscicultura tem havido perda de biodiversida­de, já que muitas espécies que dependiam da piracema, retornando para desova em áreas à montante do rio, não conseguem mais fazê-lo, seja devido aos represamentos, ou devido à alteração na turbidez, na temperatura e na composição química, devido o uso e despejo excessivo de agrotóxicos e de esgotos sem tratamento nas águas.
Os usos múltiplos na realidade se reduzem a poucos, como o uso para fins de produção energética e para irrigação. Os demais usos são ínfimos e muitos deles têm desaparecido devido aos impactos gerados pelos primei­ros. Assim, enquanto a pesca, a navegação, as pequenas culturas de inun­118 Rio São Francisco: as águas correm para o mercado Claudio Ubiratan Gonçalves; Cristiane Fernandes de Oliveira B G G
dação perdem força, o agronegócio da fruticultura irrigada cresce e com ele novas demandas por energia.
Quanto ao uso da água para fim de saneamento básico e de abas­tecimento de água, que são necessidades reais e crescentes, especialmen­te nas aglomerações urbanas, pode-se afirmar que ainda são necessários muitos investimentos para o alcance de condições adequadas. Em se tra­tando da bacia do rio São Francisco, os volumes de esgotos produzidos, coletados e tratados são de 669 mil m3/ano, 239 mil m3/ano e 81 mil m3/ano respectivamente.
Ainda, de acordo com informações disponibilizadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, somente 52,5% dos esgotos da Ba­cia são coletados e 20,7% deste total é tratado. Isto implica em comprometi­mento das águas dos rios da bacia com perda da qualidade para fim de uso, especialmente o de consumo humano.
As principais demandas de uso da água, excluído o uso energéti­co, atualmente estão, atualmente, assim distribuídas na bacia do rio São Francisco:
Uso humano (m3/s)
Irrigação e uso animal (m3/s)
Uso industrial (m3/s)
28
167
29

As altas e crescentes demandas de água para fim de irrigação demonstram que a área cultivada tem sido ampliada. Neste sentido, não deve ser desprezado o impacto referente ao uso de agrotóxicos, com consequente contaminação dos cursos d’água da bacia.
Tendo em vista o quadro de supremacia do uso da água para fim de irrigação sobre os demais usos, e considerando que a questão da escassez da água não deve ser compreendida somente sob o aspecto da quantidade, mas também da qualidade das águas, sejam elas superficiais ou subterrâ­neas, torna-se urgente a necessidade de revisão das prioridades de investimentos públicos. Neste sentido, a água, para fim de abastecimento, deve ser universalizada da melhor forma possível, sendo que os investimentos em saneamento básico são emergenciais para a garantia da qualidade dos recursos hídricos.

**Escrito por Carla Suelânia, estudante de Geografia em 2013.


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